Tesouros que roubei

Porque aqui roubar não é um crime

Para todos nós que abusámos… da sorte… Dezembro 21, 2010

Filed under: Mundo adentro,Vida adentro — tesourosqueroubei @ 7:22 pm
 

Ó Portugal, Portugal… Outubro 19, 2010

Filed under: Bolinar,Mundo adentro,Vida adentro — tesourosqueroubei @ 11:46 am
 

Viva a solidariedade…feminina. Fevereiro 3, 2010

Filed under: Vida adentro — tesourosqueroubei @ 12:35 pm

Este pequeno texto foi-me enviado por email, já está perdida a autoria, só quero assumir que não é meu, mas podia ser. Acho que podia ser de qualquer ser humano do sexo feminino claro, que não tem qualquer ajuda de pontaria entre as pernas. Subscrevo este texto, só não me sinto familiarizada com a parte do galo da marrada da porta, talvez porque, numa marrada já experienciada, encontrei uma casa-de-banho, excepcionalmente mais ampla, onde consegui resguadar a cabeça por causa de alguns centrímetros de distância à porta.

Aqui fica:

“SÓ MESMO UMA MULHER PARA COMPREENDER A SAGA DA MULHER NUMA CASA DE BANHO PÚBLICA….. MAS, QUEM SABE (?) A PARTIR DE AGORA OS HOMENS DEIXEM DE SE QUESTIONAR DE UMA VEZ POR TODAS?!

*Por que é que as mulheres demoram tanto tempo quando vão à casa de banho?*

O grande segredo de todas as mulheres a respeito da casa de banho é que, quando eras pequenina, a tua mamã levava-te à casa de banho, ensinava-te a limpar o tampo da sanita com papel higiénico e depois punha tiras de papel cuidadosamente no perímetro da sanita.

Finalmente instruía-te: “nunca, nunca te sentes numa casa de banho pública!”
E depois ensinava-te a “posição”, que consiste em balançar-te sobre a sanita numa posição de sentar-se sem que o teu corpo tenha contacto com o tampo.

“A Posição” é uma das primeiras lições de vida de uma menina, importante e necessária, que nos acompanha para o resto da vida. Mas ainda hoje, nos nossos anos de maioridade, “a posição” é dolorosamente difícil de manter, sobretudo quando a tua bexiga está quase a rebentar.

Quando *TENS* de ir a uma casa de banho pública, encontras uma fila enorme de mulheres que até parece que o Brad Pitt está lá dentro. Por isso, resignas-te a esperar, sorrindo amavelmente para as outras mulheres que também cruzam as pernas e os braços, discretamente, na posição oficial de “tou aqui tou-me a mijar!”.
Finalmente é a tua vez! E chega a típica “mãe com a menina que não aguenta mais” (a minha filhota já não aguenta mais, desculpe, vou passar à frente, que pena!). Então verificas por baixo de cada cubículo para ver se não há pernas. Estão todos ocupados.

Finalmente, abre-se um e lanças-te lá para dentro, quase derrubando a pessoa que ainda está a sair.

Entras e vês que a fechadura está estragada (está sempre!); não importa…
Penduras a mala no gancho que há na porta… QUAAAAAL? Nunca há gancho!!

Inspeccionas a zona, o chão está cheio de líquidos indefinidos e fétidos, e não te atreves a pousá-la lá, por isso penduras a mala no pescoço enquanto vês como balança debaixo de ti, sem contar que a alça te desarticula o pescoço, porque a mala está cheia de coisinhas que foste metendo lá para dentro, durante 5 meses seguidos, e a maioria das quais não usas, mas que tens no caso de…

Mas, voltando à porta… como não tinha fechadura, a única opção é segurá-la com uma mão, enquanto com a outra baixas as calças num instante e pões-te “na posição”…

AAAAHHHHHH… finalmente, que alívio… mas é aí que as tuas coxas começam a tremer… porque nisto tudo já estás suspensa no ar há dois minutos, com as pernas flexionadas, as cuecas a cortarem-te a circulação das coxas, um braço estendido a fazer força na porta e uma mala de 5 quilos a cortar-te o pescoço!

Gostarias de te sentar, mas não tiveste tempo para limpar a sanita nem a tapaste com papel; interiormente achas que não iria acontecer nada, mas a voz da tua mãe faz eco na tua cabeça *”nunca te sentes numa sanita pública”*, e então ficas na “posição de aguiazinha”, com as pernas a tremer… e por uma falha no cálculo de distâncias, um finííííssimo fio do jacto salpica-te e molha-te até às meias!!

Com sorte não molhas os sapatos… é que adoptar “a posição” requer uma grande concentração e perícia.

Para distanciar a tua mente dessa desgraça, procuras o rolo de papel higiénico, maaaaaaaaaaas não hááááá!!! O suporte está vazio!

Então rezas aos céus para que, entre os 5 quilos de bugigangas que tens na mala, pendurada ao pescoço, haja um miserável lenço de papel… mas para procurar na tua mala tens de soltar a porta… ???? Duvidas um momento, mas não tens outro remédio. E quando soltas a porta, alguém a empurra, dá-te uma trolitada na cabeça que te deixa meio desorientada mas rapidamente tens de travá-la com um movimento rápido e brusco enquanto gritas

OCUPAAAAAADOOOOOOOOO!!

E assim toda a gente que está à espera ouve a tua mensagem e já podes soltar a porta sem medo, ninguém vai tentar abri-la de novo (nisso as mulheres têm muito respeito umas pelas outras).

Encontras o lenço de papel!! Está todo enrugado, tipo um rolinho, mas não importa, fazes tudo para esticá-lo; finalmente consegues e limpas-te. Mas o lenço está tão velho e usado que já não absorve e molhas a mão toda; ou seja, valeu-te de muito o esforço de desenrugar o maldito lenço só com uma mão.

Ouves algures a voz de outra velha nas mesmas circunstâncias que tu “alguém tem um pedacinho de papel a mais?” Parva! Idiota!

Sem contar com o galo da marrada da porta, o linchamento da alça da mala, o suor que te corre pela testa, a mão a escorrer, a lembrança da tua mãe que estaria envergonhadíssima se te visse assim… porque ela nunca tocou numa sanita pública, porque, francamente, tu não sabes que doenças podes apanhar ali, que até podes ficar grávida (lembram-se??)…. Estás exausta!

Quando páras já não sentes as pernas, arranjas-te rapidíssimo e puxas o autoclismo a fazer malabarismos com um pé, muito importante!

Depois lá vais pró lavatório. Está tudo cheio de agua (ou xixi? lembras-te do lenço de papel…), então não podes soltar a mala nem durante um segundo, pendura-la no teu ombro; não sabes como é que funciona a torneira com os sensores automáticos, então tocas até te sair um jactozito de água fresca, e consegues sabão, lavas-te numa posição do corcunda de Notre Dame para a mala não resvalar e ficar debaixo da água.

Nem sequer usas o secador, é uma porcaria inútil, pelo que no fim secas as mãos nas tuas calças – porque não vais gastar um lenço de papel para isso e sais…

Nesse momento vês o teu namorado, ou marido, que entrou e saiu da casa de banho dos homens e ainda teve tempo para ler um livro de Jorge Luís Borges enquanto te esperava.

“Mas por que é que demoraste tanto?” – pergunta-te o idiota. “Havia uma fila enorme” – limitas-te a dizer.

E é esta a razão pela qual as mulheres vão em grupo à casa de banho, por solidariedade: uma segura-te na mala e no casaco, a outra na porta e a outra passa-te o lenço de papel debaixo da porta, e assim é muito mais fácil e rápido, pois só tens de te concentrar em manter “a posição” e *a dignidade*.

*Obrigada a todas por me terem acompanhado alguma vez à casa de banho e servir de cabide ou de agarra-portas! Passa isto aos desgraçados dos homens que sempre perguntam “querida, por que motivo demoraste tanto tempo na casade banho?” …. IDIOTAS!*”

 

Jogo lento… Abril 9, 2009

Filed under: Cogito adentro,Mim adentro,Tesourar,Vida adentro — tesourosqueroubei @ 12:26 pm

 

“Uns aprendem a andar. Outros aprendem a cair. Conforme o chão de um é feito para o futuro e o de outro é rabiscado para sobrevivência”

 

Mia Couto in “O Fio das Missangas”

 

 

Estou em disputas laborais com um jogador de 2ª, com uma estratégia de 2ª mas com uma lata de 1ª. E isso dá-lhe alguns ilusórios pontos de avanço pelo menos nesta altura do campeonato. Anda a jogar para ganhar tempo, ou melhor, fazer o tempo passar. Estendido no chão reclama uma falta, queixa-se de uma qualquer falsa lesão, que lhe dói verdadeiramente, por acreditar tanto na ferida que inventou. O chão dele é o da sobrevivência, mas reles feita de rabiscos por quem pensa que sabe desenhar. Mas só sabe cair, quedas fingidas porque conhece as regras do jogo de cor, não para as cumprir mas para as saber usar. Jogo limpo, jogo sujo não existem, é só jogo, o dele, o único que conhece e sabe jogar. Joga bem com quem não sabe jogar como ele, o jogo dele. Joga bem com quem não se deixa cair como ele, com quem não esfrega a cara no chão em desespero fingido, mas desespero.

O período de compensação dá-lhe jeito, assim adia o confronto com o resultado final e inevitável. A táctica se é que existe rabisca-se aos poucos e por isso, o melhor é que o jogo nunca acabe. Ele já perdeu, só falta ser vencido…

 

Carção, Judeus e Cabrões… Março 25, 2009

Filed under: Mundo adentro,Vida adentro — tesourosqueroubei @ 4:36 pm

 

A partir do século XV os judeus expulsos de Espanha trouxeram outra alimentação para Carção e outra mentalidade. Tratava-se de uma comunidade rica e organizada duramente castigada pela Inquisição: havia 228 processos no Tribunal do Santo Ofício, aproximadamente metade da população da altura.

“É uma aldeia com fortes tradições judaicas, conhecida como “Capital do Marranismo”, foi publicado um livro com esse título e para meados de Maio, com o apoio da Câmara Municipal de Vimioso, vai-se fazer as Jornadas do Judaísmo”. Um esforço para a recuperação da herança do judaísmo em termos do turismo cultural, a Rota do Marranismo é um dos anseios da população em geral e de Serafim João que escreveu “Memórias de Carção”. Os carçonenses esperam também poder ter um Museu Judaico/Etnográfico e um monumento de invocação à Intolerância Religiosa e Étnica em homenagem aos judeus. 

No brasão da freguesia está patente o candelabro de sete braços, um símbolo judaico, que figura a importância dos judeus para Carção. “Já existem muito poucos resquícios da história do judaísmo, mas nota-se mesmo nos habitantes de Carção que tinham uma característica importante: as pessoas que viviam na praça eram um bocadinho diferentes na maneira de ser e no aspecto cultural das que viviam nos arredores. Era tradição os da praça serem os Judeus e os outros serem os cabrões, porque eles é que trabalhavam com os animais, usavam o cabresto para melhor trabalharem”.

Também na missa não se misturavam cristãos novos com velhos e as paredes da Igreja de Santa Cruz, no século XVIII, estavam repletas de gravuras dos cerca de 25 judeus, desta terra, queimados na fogueira da Inquisição. Já nada resta dos sambenitos que deram lugar a paredes sóbrias que, se falassem, muitas histórias podiam contar.

Os cães da praça e os dos arrabaldes, judeus e cristãos, comerciantes e lavradores, em tempos separados por crenças e modos de vida, estão agora unidos para contar a história de Carção a quem os visita.

 

Adaptação da oração do Pai-Nosso, rezada pelos marranos/cristãos-novos de Carção, no século XX:

 

Senhor, que estais nas alturas,

Por Vossos altos favores,

Vos chamam os pecadores:

Padre-Nosso.

A Vós, Senhor, como posso

O Vosso nome invocarei,

Pois decerto, eu bem sei

Que estais nos céus;

Amparai, Senhor, um réu,

Que muito ver-vos deseja,

Que Vosso nome seja,

Santificado,

Eternamente sejais louvado,

Por tais modos:

A uma voz digamos todos:

Seja,

Do dizer ninguém se peja,

Nem o mais de Vos louvar;

Só deve triunfar,

O Vosso nome,

Matai-nos a nossa fome,

Com o bem da Vossa mão,

E do céu, meu Deus o pão

Venha a nós.

Amparai-nos sempre Vós,

Dando-nos pão e mais pão,

E por fim, em conclusão,

O reino Vosso.

Fazei que seja nosso

Esse reino da verdade;

Sempre a Vossa vontade

Seja feita.

Quando dermos conta estreita,

Convosco, meu Deus, me veja,

Para perdoar-me seja

A Vossa vontade.

Dai-nos lá, na eternidade,

À Vossa vista um lugar;

Já que andamos a peregrinar

Assim na terra,

É assim que se desterra

Uma dor como tal prazer,

Pois melhor lugar não pode haver

Como no céu.

Em tempo algum seja réu,

Por culpas que não cometi;

A todos daí, como a mim,

O pão nosso.

Eu prometo ser tão Vosso

Que por Vós morrerei;

Sempre Vos louvarei

Cada dia.

Dai-nos prazer e alegria,

Com poderes da Vossa mão,

E a todos o perdão

Nos dai hoje,

Que de Vós ninguém foge,

Antes se chegam a ti contritos;

Porque sois Deus dos aflitos,

Perdoai-nos

E por amor amparai-nos!

Felizes os que de Vós amparo têm;

Absolvei-nos, também,

As nossas dívidas,

Que por serem contraídas

Temos todos grande dor;

Perdoai-nos, Senhor,

Assim como nós

Havemos mister, e Vós,

Se acaso o perdão nos dais,

A perdoar nos ensinais,

Perdoamos.

Que é glória Vossa, e damos

O perdão por mui bem feito,

Pois perdoar é preceito,

Aos nossos,

Pois, por sermos todos Vossos,

É mui justo o perdão,

Para que não haja, não,

Devedores,

Assim como os Vossos favores,

Que qualquer é superior,

Agora, por Vosso amor,

Não nos deixeis.

Senhor, não desampareis

Barro que não é valente,

Pois se deixa facilmente

Cair;

Cuidai muito em nos acudir

Com auxílios eficazes,

Que de cair somos capazes

Em tentação;

Esteidei-nos a Vossa mão,

Senhor, com todo o cuidado,

De contrair o pecado

Livrai-nos

Meu Deus e Senhor, dai-nos

Zelo e serviço fecundo,

E livrai-nos neste mundo

De todo o mal,

Agora, diga já cada qual,

Com bem puro e firme amor:

Louvado seja o Senhor.

Amem.

 

marranismo

 

Imagens… Fevereiro 20, 2009

Filed under: Mim adentro,Mundo adentro,Vida adentro — tesourosqueroubei @ 4:28 pm

 

 

Hoje vi uma bruxa a apontar a vassoura para o comboio onde viajava. Era uma criança apetrechada para comemorar o Carnaval da escola e talvez tenha encarnado de tal forma a personagem que decidiu fazer um feitiço. Bom ou mau não sei, mas gostei da imagem.

“Sinto que dei um grande jantar, mas não comi” e é a melhor imagem daquilo que muitas vezes me acontece. Algumas até no sentido literal.

Outra imagem. Gostei de ouvir outro dia um pastor dizer sobre a profissão que o ocupa há 40 anos e que o vai acompanhar até morrer ” é um bocado duro, molhado, a chover e a nevar, tem sido sempre. Quando me emborracho ficam metidas na cortiça para as castigar. Elas às vezes castigam-me a mim, mas eu fodo-as que as castigo a elas. Como é que é…”. É assim, a vida é simplesmente assim, os bolos económicos são económicos.

Mais uma. Em Vilar do Monte, Macedo de Cavaleiros,  o “Santo Estêvão é como a Santa Bárbara, advogado das trovoadas. A gente tem muita fé naquele santinho. Está a trovoar, está as trovoadas, aquelas forte que metem medo, basta abrir as portinhas da Igreja que as trovoadas começam logo a ir embora.

Uma outra imagem. Nos funerais não se tira folga dos peditórios, claro que é um apelo a uma maior generosidade causada pelo sofrimento de quem não quer saber de nada naquele momento. Nem quer saber o que o padre diz, não o ouve a mastigar a hóstia, nem a dar um trago no vinho. Está perdida naqueles pensamentos lentos e escassos que não importam mais nem menos que tudo o resto. Se a morte tem nexo, se a vida é uma passagem, se somos peregrinos na terra, se a lógica de Deus não deve ser questionada, se vamos estar face a face com Ele, que interessa?

 

Rotas ou descosidas…? Dezembro 12, 2008

Filed under: Mim adentro,Vida adentro — tesourosqueroubei @ 12:42 pm

 

Vale a pena repensar sempre a vida, não com remorsos, arrependimentos mas com uma vontade se sermos sempre melhores. A censura aqui não é chamada. Não é definitivamente censura o exercício a que me refiro. É um exercício de reaproveitamento dos dias, das horas, mas acima de tudo um reaproveitamento das pessoas. Sempre tendo em vista o futuro. Mas esse futuro não chega e repete-se aquilo que pensei mudar para melhor, sempre para melhor. O futuro não vem e revejo-me a mim mesma, sempre a mesma. Quantas vezes estou sem estar, com todos os que gosto. O absorver dos momentos é distraído, é impaciente. Outras vezes simplesmente ocupo-me com pensamentos do que vou fazer, numa constante ansiedade completamente intrínseca. Agora assumo-a, faz parte de mim. Também posso dizer, sou assim e pronto. Sei que compenso e digo: que se há-de fazer? E então quando vejo nos outros a aceitação do que sou, descanso. Que alívio.

Só há uma coisa que não me deixa descansada. Quando surgem provas de que a vida nos escapa sem darmos conta.

 

 

 

Ela estava a coser uma meia, já quantas dúzias coseu. Ela insiste em coser meias e já ninguém cose meias. Dá-me vontade de coser meias. Cose com dedal como quem realmente sabe coser. Já mo disse há muito, era eu pequena. Sempre que coso penso nisso, mas não fiz caso do dedal. A verdade é que não sei coser.

Tirei-lhe uma fotografia, ela olhou para a objectiva e riu-se como se riu na fotografia que há dias lhe tirei no hospital. Um riso de espanto, um riso de quem sabe que uma fotografia merece um olhar atento. Um olhar de quem, em tempos, se arranjava para a fotografia com a melhor roupa de ir à missa. Um olhar que não consegue evitar perante a objectiva que não entende como, mas a consegue fixar para sempre. Gosto desse olhar, está vivo apesar do infortúnio que ninguém adivinhava. Num dia cose meias, no outro está estendida no chão ao lado da caixa de costura. Uma queda, na escada que lhe acompanha os dias, e os 92 anos que completou há dias.

Não é um caso grave, pelo menos não o sinto grave, nem o penso grave e nem o pintam grave lá no hospital.

 

Quando penso que tudo encaixa, que se pode coser a vida, descubro que nem alinhavada está. Como se partes da vida estivessem talhadas a estar descosidas, como se o acaso desse um ponto sem nó e tornasse tudo inexplicável. O sentido a que me agarro, numa tentativa de encontrar alguma lógica num mundo inventado por nós, sai de mim de tempos a tempos, quando reparo que há tragédias que não anunciam a sua chegada. E são essas que, na minha opinião, tornam o mundo mesquinho e caótico. Como se aqui o “perdido por cem, perdido por mil” ganhasse nova força para se arriscar a perdição total, que acaba por se basear em tragédias humanas calculadas e anunciadas, quase previsíveis e completamente catastróficas. São tragédias dirigidas por poderosos com um poder que não passa de arrogância, prepotência, loucura ou inconsequência.

Agora volto a pôr o véu cor-de-rosa que me trás à doce aceitação da minha vida. Não sei se somo verdadeiras tragédias. Mas afinal o que são verdadeiras tragédias?