Tesouros que roubei

Porque aqui roubar não é um crime

What a wonderful world… Junho 18, 2010

Filed under: Cogito adentro,Jornais & Revistas — tesourosqueroubei @ 3:39 pm

Hoje foi o último dia de vida de José Saramago. Nunca li nenhum livro dele, mas não é tarde para começar. Um dia… porque existe um dia. A ideia de futuro está presente nos crentes, nos ateus, nos agnósticos e seja visto com optimismo ou pessimismo, está lá. Ninguém vive um dia como se fosse o último. É bom fazer planos, é bom criar metas. Não sermos reféns dos timings. Mas não convém adiar certas coisas, senão perdem sentido.

Falando de escritores, Colm Tóibin diz que tem “sérias dúvidas de que a felicidade seja boa para um escritor”. Quando li esta frase na entrevista publicada no JN de quarta-feira imediatamente concordei com ele. Sempre achei que a infelicidade e a tristeza devem ser muito mais produtivas e até inspiradoras. Basta ver que mesmo o jornalismo vive de tragédias e infortúnios. Cada vez que se conta uma história “feliz” nunca se deixa de sublinhar que se vai fazer isso mesmo, como que a puxar a atenção para o facto de “apesar de não haver sangue, concentre-se”. Vale a pena estar atento, mas não é comum estarmos a perder tempo com a felicidade dos outros. Ora, a tragédia já nos consola mais um bocadinho, não é verdade?

Este escritor irlandês considera que histórias de personagens felizes e bem sucedidas são histórias de pessoas desinteressantes. E foi nesta altura que comecei a questionar se a felicidade e o sucesso são desinteressantes. O jornalismo da “felicidade e do sucesso” é desinteressante?

Perceber os motivos da felicidade pode ser bem mais complexo que perceber os motivos da colega oposta. A infelicidade está sempre lá, mas a felicidade é basicamente inventada e pode, por isso, ser bem mais interessante de tratar. Está sempre relacionada com os ingénuos ou mesmo ignorantes. Mas uma pessoa bem esclarecida pode decidir ser feliz, se quiser.

Mais de meio mundo não tem tempo para ser feliz porque anda às turras com a sobrevivência. O resto de mundo, apesar de não lhe faltar comida na mesa e roupa lavada, decide não ser feliz porque não está satisfeito na escalada do sucesso. Uns têm tudo, mas incomoda-lhes a infelicidade dos que não têm nada e por isso não são completamente felizes.

A solidariedade pela infelicidade podia ser convertida numa homenagem através da felicidade. Ser feliz porque sim. Porque quem não é feliz, por motivos lógicos, merece o respeito da felicidade dos outros que não têm porque estar infelizes.

Vamos acreditar que há potes de ouro no fim do arco-íris…

 

Deixe um comentário